Garoto Encontra Garoto
Autor: David Levithan
Editora: Galera Record
Ano: 2014
Edição: 1
Páginas: 240
Tradução: Regiane Winarski
Original: Boy Meets Boy
Dedicatória:
Para Tony (mesmo ele só existindo em uma música).
Este YA foi lançado originalmente em 2003. Eu tinha apenas 20 anos e não conseguia imaginar como estaria a cena homossexual no horizonte de 10 anos. Algumas coisas melhoraram, de fato.
David Levithan descreve o velho cliché de uma história de amor entre adolescentes. A diferença aqui é que o casal é composto por dois meninos. Não deveria ser uma “diferença”, mas é essa a verdade. A “originalidade” aqui (ainda) é o fato de ser uma história de amor de dois adolescentes, com os típicos desencontros, fantasmas de ex-namorados, confusões e corações partidos.
Paul é o protagonista desta história narrada em primeira pessoa. Mora em uma cidade fictícia quase utópica em New Jersey (Estados Unidos), onde gays, lésbicas e travestis convivem harmoniosamente com heterossexuais. Estuda em uma escola onde a rainha do baile é uma quarterback drag-queen, chamada Infinite Darlene:
– “Há quanto tempo você é…? – pergunta Cory.
– Tão incrível? – completa Infinite Darlene. Cory Sorri.
– Isso mesmo. Tão incrível.”
Paul tem amigos que apesar de coadjuvantes, enriquecem os diálogos. Creio que muitos adolescentes na fase de pré-aceitação da homossexualidade se reconhecerão em Tony, um dos melhores amigos de Paul que vive em conflito por não poder ser quem é, por causa de seus pais, como dito em:
“— Mas eles estão errados.
— Eu sei. Mas eles não me odeiam, Paul. E eles me amam com sinceridade.
— Parte de amar é deixar a pessoa ser quem ela quer ser. ”
Como o título sugere, a história toda é baseada em encontros de Paul com Noah. Desencontros de Paul e Noah. Não há nada explícito, tampouco passagens mais calientes para o leitor desavisado. E talvez isso seja o mais legal, pois Levithan em momento algum levanta a bandeira do ativismo homossexual. Trata-se apenas de personagens contando uma história de amor.
Achei o enredo pouco fluido e previsível. Apesar de não conseguir desistir do livro, a leitura se arrastou. Talvez por que não tenha me identificado com Paul. Ou por que este não fosse um bom tempo para ler algo do tipo. No entanto, terminei de ler o livro e fiquei com a esperança de dias melhores.
O primeiro amor pode demorar a acontecer. Tem gente que tem a grande sorte (particularmente, prefiro acreditar na benevolência do Dharma) de encontrá-lo ainda na adolescência e poder desfrutar uma vida inteira ao lado da pessoa mais especial da vida. No entanto, se isso não acontece, o primeiro amor é apenas mais um da sua lista de (frustradas) tentativas.
David Levithan é um autor homossexual, que antes de mais nada, é tão gente como eu, ou quanto você.
Destaques:
[1] “Noah me surpreende ao falar.
— Você sempre soube? — pergunta ele. Sei imediatamente de que ele está falando.
— Basicamente, sim — respondo. — E você? Ele assente, ainda com os olhos na tela e com o pincel numa marca azul.
— Tem sido fácil pra você?
— Tem — digo para ele, porque é a verdade.
— Nem sempre foi fácil pra mim — conta ele, e não fala mais nada.”
[2] “Eu me pergunto se é possível começar um novo relacionamento sem magoar alguém. Eu me pergunto se é possível ter felicidade sem ser à custa de outra pessoa. E então, vejo Noah vindo até mim com um bilhete dobrado no formato de uma garça. E penso que sim, é possível. Acho que posso me apaixonar por ele sem magoar ninguém.
[3] “Sei que Tony ainda vai para a clareira de vez em quando, para pensar ou sonhar. Faço um cumprimento silencioso sempre que passamos por ela. Nunca nos sentamos lá juntos. Eu não quero invadir a solidão dele; quero estar perto quando ele decidir sair dela.”