Dedicatória:
Para Russell, Caleb e Joseph
Eu sei o que é sentir aquele frio na barriga toda vez que você inicia o ano, principalmente em uma escola nova. Ao longo da minha vida, troquei 6x de escola. Eu sei bem o que é isso. Quando eu era criança, já apanhei na escola. Uma menina que não gostava de mim, só porque eu era oriental, me empurrava. Um outro menino, me chutava todos os dias a canela, porque eu sou oriental, e na década de 80 ser oriental no Rio de Janeiro era tipo ser um ET. Já tive o cabelo puxado na rua, já fui alvo de piadas e quando eu ia pra escola, faziam chacotas com meu olho e ficavam falando “arigatou” como se eu não falasse português. Já escarraram no meu braço e já me xingaram falando que eu não deveria estar na escola de pessoas normais. Tem várias outras coisas que eu poderia citar aqui, mas meu baú de memórias hoje está fechado para balanço.
Mas, também sei que nada do que eu disser aqui vai se comparar ao que o Auggie sofreu, já que ele tem uma doença rara que deixa o rosto um pouco deformado (nossa, odeio essa palavra). Mas este é um livro bacana para as crianças lerem, porque as crianças sabem ser cruéis, mas elas também aprendem a empatia, se você ensinar. O certo é que a dificuldade psicológica que a criança passa, pode ajudá-la na construção da sua fortaleza interior. A infância é a fase mais importante para a determinação do caráter da pessoa na qual ela se transformará.
O livro mostra o ponto de vista dos personagens (família e amigos), sempre em perspectiva sobre a mesma história, a história de August Pullman.
No final de semana assisti Extraordinário, a adaptação para o cinema, e resolvi que deveria escrever hoje, para não esquecer nenhum detalhe. Como já era de se esperar, o filme não consegue passar com a riqueza de detalhes todo o sofrimento de Auggie, mesmo com um elenco muito bom (Sonia Braga é a mãe de Julia Roberts).
Talvez o que eu mais tenha gostado nessa história foi que Auggie prova que “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” e ainda que “gentileza gera gentileza”. E é isso que eu tento levar para a minha vida também.
O livro tem uma boa narrativa, bem YA. A diagramação é bonitinha. Vale à pena a leitura.
[1] “Mamãe se lembra perfeitamente das palavras que a enfermeira sussurrou em seu ouvido quando o médico disse que era provável que eu não sobrevivesse àquela noite. “Todo o que é nascido de Deus vence o mundo.””
[2] “A questão é que, quando eu era pequeno, nunca me incomodava em conhecer outras crianças porque todas elas também eram pequenas. O legal de crianças pequenas é que elas não dizem coisas para tentar magoar você e, mesmo que às vezes façam isso, não sabem o que estão falando. Quando elas crescem, por outro lado… sabem muito bem o que estão dizendo. E isso, definitivamente, não é divertido para mim. Um dos motivos para eu ter deixado meu cabelo crescer no ano passado é que gosto do modo como a franja cobre meus olhos: isso me ajuda a tampar as coisas que não quero ver.”