Dedicatória:
Para Alhelí

Neste livro de estreia do chileno Alejandro Zambra no ramo da prosa, conhecemos o fim da história de amor entre duas pessoas: Julio e Emilia. Zambra relata em forma de prosa bem escrita o breve romance entre eles, mas começa do fim, não sei se porque queria acabar com todas as expectativas de um final feliz ou se porque queria introduzir, ainda que de forma perturbadora, e aguçar todos os sentidos do leitor. “No final ela morre e ele fica sozinho, ainda que na verdade ele já tivesse ficado sozinho muitos anos antes da morte dela, de Emília” – é a abertura que dita, sem precedentes temporais, o que acontecerá nas próximas páginas. A semelhança do bonsai, que dá título ao livro com o término do relacionamento é que ambos, mal cuidados, morrem.
Referências de metaliteratura aparecem, principalmente no início da relação do casal; talvez por que no começo de qualquer interesse humano você tenha a necessidade de expressar-se com mais desenvoltura intelectual para impressionar o outro (para os que gostam de literatura, principalmente), cabendo até a falácia de ambos, que mentiram ao afirmar que leram “Em busca do tempo perdido” de Marcel Proust. No entanto, em verdade, lêem juntos na cama Nabokov, Flaubert Capote entre outros clássicos. É a leitura do conto de Tantalia de Macedonio Fernandez que colabora para o entendimento de que a dupla está fadada ao fracasso: um casal que compra um bonsai percebe que o término da relação está atrelado à morte de da planta, que sem os cuidados corretos, com a delicadeza e sensibilidade que um bonsai requer, morrerá por falta de manutenção. Em uma vã tentativa de pular o destino, eles o perdem propositalmente em meio a várias outras plantas, para evitar presenciar sua morte. Mas isso não foi o suficiente, pois veio a tristeza de perder o bonsai que os unia.
No término da leitura de Tantalia, eles entendem que precisam terminar. É a literatura como fio condutor da reflexão do fim de um relacionamento.
Um livro de narrativa rica, mas com uma história bastante crua, que me leva a refletir no momento onde parei de prestar atenção no meu eu interior. Diferente de Julio e Emilia, demorei a perceber (ou talvez aceitar) que o fim de um relacionamento deve ser podado pela raiz, tal como um bonsai.