Ano: 2015
Edição: 1
Páginas: 210
Quem já era adolescente na década de 80, conheceu a Gretchen, a famosa Rainha do bumbum. Como parte do legado, ela teve uma filha, chamada Thammy, que por algum tempo, foi sua dançarina e promessa de continuidade da realeza. Só que não foi bem isso que aconteceu.
O livro conta a época do relacionamento da mãe com o seu pai, como se conheceram, como foi a gravidez no auge do sucesso, passando pela separação do casal e da vida em Recife.
Conta também as fases da Thammy (de garota que não gostava de usar vestido, passando pela fase lésbica até ter a certeza de que estava no corpo errado).
Apesar de muitos não entenderem como a Gretchen pode não ter aceitado de início a homossexualidade da filha (onde segundo o livro, ela chega a soltar a célebre fala “— Eu preferia ter uma filha morta a ter uma filha sapatão“) por ser artista e símbolo sexual, é compreensível que muitos pais queiram o melhor para seus filhos, ainda mais no mundo medieval onde vivemos, com o preconceito e a homofobia escancarada, percorrendo as esquinas da vida. O “melhor” neste caso, trata-se apenas de sabermos que a vida é ainda mais difícil.
Neste ano de 2016, Thammy se candidatou a uma vaga como vereador do Estado de São Paulo pelo Partido Progressista, curiosamente a mesma legenda que representa o polêmico Jair Bolsonaro com o slogan “Thammy junto”. Infelizmente ele não conseguiu ser eleito.
Li este livro porque me interesso pela temática trans. E percebo agora que é o terceiro livro este ano sobre esse assunto. É preciso ter cuidado com o que falamos. É tanta coisa ruim acontecendo, é tanto desamor. Tenho um enorme respeito a todas as pessoas que são felizes assumindo-se trans.
Deixo aqui alguns canais de YouTubers trans, para servir de esclarecimento:
Mandy Candy: https://www.youtube.com/user/mandyparamaiores
Ariel Modara: https://www.youtube.com/channel/UCFTIDQwgbBp3Si0Azd2lFKQ
Adam Franco: https://www.youtube.com/channel/UCNP9Qg69W3tyMt9IH7YAdwQ
Destaque:
[1] CURA GAY Certa de que Thammy estava entregue às más companhias, vítima de vampirismo e forças demoníacas, Gretchen encontrou uma nova solução. Se ela sozinha não tinha conseguido resolver, a igreja resolveria. Afinal, demônios e igrejas estão sempre muito próximos. Thammy insistiu que não se tratava de um problema espiritual amar uma pessoa do mesmo sexo, mas Gretchen foi irredutível. Negociou a liberdade da filha por sessões de exorcismo. Lá se foi Thammy para o culto, não sem antes Gretchen explicar tudo muito direitinho ao pastor. A igreja estava lotada como um circo e a atração da noite era Thammy, a filha de Gretchen. Uma atração e tanto porque a desgraça é mais desgraça quando recai sobre gente famosa. Thammy estava humilhada e ofendida como uma personagem pobre de livro russo no inverno. Mas levantou a cabeça e foi em frente. O pastor chamou Thammy. Era a hora de exorcizar o espírito da homossexualidade que invadia aquela pobre menina. Maria Odete segurava a mão da filha, como se ela realmente precisasse de ajuda para andar até o centro da igreja, onde ficou mais visível aos olhares dos curiosos. E o pastor começou a falar. A falar alto. Logo em seguida, passou a gritar. Para piorar a situação, sem muita técnica vocal, o homem cuspia loucamente enquanto gritava seus versos de exorcismo: — Sai, demônio! Sai!