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A transexualidade vem ganhando cada vez mais espaço no mundo. Lea T foi representante do movimento na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Thammy Gretchen concorrerá a um cargo no ramo da política brasileira.
João nasceu Joana, ainda na década de 50. Desde criança, reconhece-se como menino e não entendia por que não podia andar sem camisa como o pai. Na adolescência, sofreu (ainda mais) com as mudanças do corpo, as hormonais e psicológicas. Tentou namorar com um homem, mas por motivos óbvios, depois de um mês, não conseguiu prosseguir.
Aos 27 anos, ele começa a longa jornada de ser o primeiro transexual masculino (FTM, do inglês Female To Male) brasileiro. A aceitação da família não aconteceu logo de imediato. Mas com muito diálogo e amor, João conseguiu.
A biografia de João mostra o árduo caminho que ele percorreu até tornar-se o que é hoje. Cirurgias clandestinas, práticas inexperientes, e o pior, a perda de seu diploma de psicóloga. Como tornou-se homem, não foi reconhecido como psicólogo, e não pôde mais lecionar, atividade que fazia com grande paixão. Tornou-se taxista.
João teve amores e paixões. Conturbadas e confusas, em sua maioria. Aos 37 anos, tornou-se pai. Esta é uma história muito legal que prova como a coragem é importante quando queremos alcançar um objetivo e por que não devemos desistir de nossos sonhos.
Assisti às entrevistas de João no Jô Soares e Marilia Gabriela. Nem de longe lembra a sombra de uma mulher.
Hoje é Dia dos Pais no Brasil. Espero que João esteja tendo um Feliz Dia Dos Pais.
Destaques:
[1] Para meu filho, por me fazer um pai feliz. Para todas as transidentidades que se reinventam para achar seu lugar no mundo.
[2] “O bom do amor é que podemos amar várias vezes”.
[3] O marido de Mariana era um engenheiro minucioso. Um sujeito formidável que, da severa educação recebida, trazia um senso profundo de honestidade e certo retraimento. Garcia me enternecia com a sua docilidade. Uma dessas pessoas que, se você pudesse espremer, só sairia bondade. Sempre bem-intencionado, transmitia uma confiança do tamanho do mundo. Sobretudo, era um amigo de verdade, o que me foi confirmado diversas vezes.
[4] Com a maleta na mão, caminhei até avistar uma tabuleta, onde se lia: “Pensão Libertador”. Tive a impressão de que aquele nome me daria sorte. Não era careira e dava refeições. Tomei um banho e me estiquei na cama para continuar a ler O Estrangeiro, de Albert Camus.
[5] — Não posso negar que o seu problema me atingiu. Não é fácil perder uma irmã a cujo enterro não compareci. Talvez seja essa morte o que me revolte. A minha infância e adolescência foram partilhadas com Joana. Você a matou! É difícil saber ter amado alguém que nunca existiu realmente da forma que se pensava! Você não surgiu de repente. Não é apenas uma simples pessoa a quem fui apresentada e que me limito a gostar, a aceitar ou não. Hoje, se gosto de você, é pelo que já gostei. E onde encontrar agora aquela a quem amei? Não sei se está me entendendo, mas é isso o que sinto. Não é uma cirurgia, uma mudança de nome ou de papéis que faz com que alguém seja outro ser! E hoje me sinto impedida de manter viva a imagem da irmã por quem sempre tive o maior carinho! Agora, responda-me, o que faço com você no meu passado?
[6] De todas as minhas experiências como professor, talvez meus alunos da terceira idade tenham sido os que mais me gratificaram. Já tão castigados pela dor, pude mudar o sentido do resto de suas vidas.
Eu assisti “A Garota Dinamarquesa” no último final de semana. Buscarei ler esse livro, para conhecer esse caso brasileiro.