Tá Todo Mundo Mal

Autor: Jout Jout
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2016
Edição: 1
Páginas: 200

Jpeg

 

Se eu fosse escrever um livro sobre crises, teria bem menos páginas do que este. Talvez porque eu seja sucinta até nas minhas crises. Pensando com meus botões, aqui entrariam as crises de paixonite platônica juvenil, a da a carreira para escolher no vestibular, o primeiro estágio, a primeira bronca do chefe etc. Perfeitamente cabível ainda entrar a crise dos 19 anos, porque naquele ano pirei pensando que seria meu último ano da casa do “1” e aí seria só ladeira abaixo.

Até ler este livro, assisti apenas dois vídeos da Jout Jout. Um deles foi a do super repercutido “batom vermelho” e a outra foi uma que me mostraram no trabalho porque ela menciona a palavra “Engenharia” no funk que ela canta (e dança). Também havia acompanhado nas redes sociais a repercussão que foi quando “descobriram que o Caio é negro” – uma lástima.

Curiosamente recentemente descobri que Jout Jout tem vários amigos em comum comigo, meus colegas do jornalismo (acho que todos filhos da Puc). O livro é bem escrito, com linguagem informal, que nos faz crer que ela é nossa amiga de anos. Leitura rápida que eu recomendo para desintoxicar.

Destaques:

[1] Quando nasci, minha mãe me pegou nos braços e falou: — Você é a pessoa mais especial que já existiu no planeta. Depois ela repetiu essa mesma frase inúmeras vezes ao longo da minha vida. Nunca diga isso para os seus filhos. Se eles acreditam, dá uma merda sem tamanho. Eu acreditei. Por vários anos. Até chegar à puberdade e destruir toda a autoestima que tentei construir — com a ajuda da minha mãe — com tanto suor. O que dificulta é que mães são imunes à puberdade.

[2] Lembro que certa vez estávamos conversando antes de dormir, no melhor estilo pijama-bichinhos-de-pelúcia-brigadeiro-segredinhos, e ela chegou à conclusão de que odiou estar apaixonada. Ela precisava de conforto, segurança, equilíbrio emocional, e a paixão ia contra tudo que ela mais prezava. Alguém em algum filme a tinha convencido — e a mim, e a todos nós — que era preciso viver intensamente, uma vida apaixonada, com rompantes de emoção, sentimentos à flor da pele, e ela quase caiu nessa. Ali ela abriu mão da paixão. Não do amor, da vida a dois, das rotinas gostosas de um casamento feliz, mas da paixão que a fazia perder o controle. Ela não queria essa onda de sentimentos em que ou você é o mais feliz e realizado dos seres, ou o mais miserável; ou está vendo um pôr do sol aos prantos de tanto amor, ou está num canto do quarto comendo os cabelos e queimando fotos.

[3] * Falei Arthur como se todo mundo conhecesse Arthur. Arthur foi o meu primeiro melhor amigo. É um rapaz muito sábio, gosta de objetos amarelos, vai sozinho a shows, come salada sem a necessidade de temperos, usa tampão de ouvido no ônibus porque às vezes é melhor o silêncio, e um dia terá uma fazenda onde vai cultivar uma horta — mas por ora é engenheiro.

[4] Desde que me lembro, meu maior medo na vida é ser estuprada. Se somarmos o tempo que já me dediquei a pensar nisso poderemos concluir que já perdi algumas semanas da minha vida para nada. E tudo piora quando penso que a lei da atração está aí solta, dominando nosso destino. Então quando penso nisso, logo acho que estou atraindo, porque estou pensando demais nisso, aí tento não pensar, mas fico pensando em não pensar e em não atrair, e só penso mais e atraio mais. Ou não atraio nada, vai saber. Não se pode brincar com best-sellers.

Sobre carolinayji

Desde que me conheço por gente, há algumas décadas, sou eu.
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