Editora: Intrínseca
Ano: 2014
Edição: 1
Páginas: 160
Dedicatória:
Para a Rosina e a Patrícia
Queria Ver Você Feliz é uma história autobiográfica de Adriana, e contada, segundo a ótica do Amor (sim, o narrador é a personificação do Amor). A história que Amor nos conta é a de Maria Augusta e Caio, que são os pais da escritora.
A história começa na década de 30, contando como os adolescentes se conheceram ainda no Rio de Janeiro, na Fonte da Saudade, na Lagoa, bairro nobre do Rio de Janeiro. A mãe de Maria Augusta, sem concordar com o namoro dos dois, manda Maria Augusta para Porto Alegre e os dois começam a se corresponder por cartas (algumas em facsimile) e telegramas. O livro é repleto de fotografias e cartas dos dois.
O tempo passa e Caio começa a sentir muito ciúme de Maria Augusta, apesar de ela ser a parte passional e intensa do relacionamento. Caio começa a trabalhar na empresa onde seu pai trabalha, a Klabin, grande empresa no ramo de embalagens (a qual sou acionista desde 2008 até o presente momento no qual escrevo essa resenha). Por conta das inúmeras viagens que ele faz a trabalho, a correspondência por cartas (e ao longo do tempo por telefone) continua como marca registrada do casal. Como exemplo do exagero de Maria Augusta, ela escreve em uma das ausências de Caio, que estava em viagem a trabalho:
Rio de Janeiro, 15 de outubro de 1952
Vou fingir que não li o beijinho na testa e continuo aguardando carta sua.
Cheguei à conclusão de que vou ter que escrever para você um manual de como se escrevem cartas de amor, por enquanto vai só o resumo. Uma carta de amor deve iniciar com vocativos apaixonados, como meu amor, minha amada, minha amadíssima, meu céu, meu tudo etc. Então se passa para as notícias. O último terço da carta deve falar só de saudades e o final tem que ser apoteótico. Um “o mundo não tem graça sem você, luz da minha vida” em geral funciona.
O mundo não tem graça sem você, luz da minha vida.
Maria Augusta. As diferenças entre Caio e Maria Augusta do início do relacionamento estreitam-se ao passar dos anos de convívio conjugal. A intensidade de Maria Augusta acompanha-a até o final de sua vida. Caio, que era um mero coadjuvante, rouba a cena com a transformação (ou revelação) de sua personalidade, cada vez mais afetada pela loucura e potencial declínio da sanidade de Maria Augusta. Ela é internada por um tempo em uma clínica psiquiátrica no Rio Grande do Sul, com direito a tratamento feito à base de eletrochoques.
Juntos eles têm três filhas: Rosina, Tatiana e Adriana.
Coincidentemente neste feriado de Corpus Christi, assisti uma palestra sobre loucura e suicídio no CEMA (Centro Espírita Maria Angelica, no Recreio aqui no Rio de Janeiro). A palestrante disse que segundo os preceitos desta doutrina, as pessoas que decidem dar cabo à própria vida, no desespero da dor ou no desprendimento da loucura, caminham para um vale escuro, de pessoas com linguajar chulo e negativismo. Adriana passeia entre a loucura e o suicídio de forma leve e poética, com drama, claro.
Destaques:
[1] Tenho observado os sentimentos humanos ao longo do tempo e posso afirmar que a rejeição é um tipo de dor que causa grandes estragos.
[2] Francamente, essa mania que inventaram de te botar viajando o Brasil inteiro, além de estar me dando nos nervos não é justa com a nossa família. Se foi pra isso que você virou supervisor de vendas, a gente nem devia ter comemorado, devia era ter mandado rezar uma interminável missa de corpo presente pra você, só assim você estaria sempre presente.