Editora: Planeta do Brasil
Ano: 2010
Edição: 1
Páginas: 304
Original: Me
Dedicatória:
“Dedicado a Matteo e Valentino Martin Minha luz, meu foco, minha força, meus pequenos mestres, que, com um simples olhar, apenas, sabem como me dizer: “Não se preocupe, papai. Está tudo bem.”
Já tive muitas fases musicais. Quando pré-adolescente, gostava de Legião Urbana e j-pop. Já adolescente, fui fã de rock (com camisa do Marilyn Manson e tudo). Depois também comecei a gostar de músicas com letras para cortar os pulsos, como as do Los Hermanos, Maria Bethania e Belle & Sebastian. A música chinesa sempre me acompanhou desde criança, principalmente as folks e há uns 7 anos, as do Sodagreen (蘇打綠). O que muita gente não consegue imaginar é que além de eu gostar de funk, já fui muito fã dos Menudos nos anos 80.
Sim, eu era fã. Meus pais dizem que eu grudava meus olhos puxadinhos na velha TV Telefunken e começava a dançar e a cantar (no meu próprio dialeto) as músicas dos Menudos quando ainda nem sabia falar direito. Meu favorito, segundo minha mãe era o Robby Rosa. Tenho poucas recordações dessa época. Lembro de um dia que estava vendo o “Viva a Noite” do Gugu e eles estavam lá (acho que fiquei esperando muito tempo acordada) e de uma camiseta com a foto do grupo que eu tinha e usava sempre.
Toda essa introdução foi para dizer que li a biografia do Ricky Martin. Para quem não é da minha época, Ricky foi um dos Menudos da formação que eu era fã.
Como é de se esperar, o livro, narrado em primeira pessoa, conta o início da carreira de Ricky, ainda criança, fazendo testes para comerciais de TV, até ser aprovado para ingressar nos Menudos e posteriormente sua carreira de ator de novelas mexicanas e Hollywood, além da mais famosa: sua carreira solo.
Creio que muita gente deve esperar que o livro fale dos bastidores do mundo do show business cheios de fofoca, escândalos sexuais acerca do latin lover e outras extravagâncias. Felizmente, o livro não fala nada disso. O livro trata do otimismo, do encontro na religiosidade, da esperança por um mundo melhor (através de trabalhos humanitários em países devastados pela guerra, por tradições culturais machistas ou afetados por tragédias naturais), da busca pelo verdadeiro eu, que Ricky tentou esconder por quase três décadas.
O livro foi lançado pouco depois do envio de sua carta aberta (abaixo) confirmando sua orientação sexual. Ricky assumiu-se homossexual. Hoje tem dois filhos gêmeos (fruto de barriga de aluguel).
De todas as definições do amor, talvez a única que importe é a que te deixe feliz. O livro está repleto de mensagens motivacionais, como descrita em “Se você não tentar fazer aquilo pelo que é realmente apaixonado, nunca seus sonhos vão virar realidade. Você pode ter muitas coisas, como casas bonitas ou carros luxuosos. Pode encontrar o amor e ter uma família que o adore. Pode ter tudo isso e muito mais. Mas, se você é um poeta e não escreve poemas, como vai ganhar o prêmio de poesia com que sempre sonhou? Se não cultivar sua paixão, sempre vai sentir um vazio. Sempre vai sentir que está faltando alguma coisa. Não estou dizendo que deve abandonar o trabalho e escrever poemas 24 horas por dia, mas todos nós deveríamos sempre tentar com o maior empenho possível nunca abandonar nossos sonhos.”.
Um fato muito curioso é que Ricky Martin conhecia O Segredo. Evidências estão abaixo:
[A] Desde o instante em que criamos a fundação, foi como se eu tivesse enviado uma mensagem para o universo de que desejava fazer alguma coisa, e de repente começaram a aparecer para mim muitas maneiras de ajudar. Basta dizer “Quero fazer alguma coisa”, e bum, as oportunidades começam a surgir.
[B] Na Índia, aprendi a focar-me na gratidão. Acho que a maioria de nós – inclusive eu – passa a vida dando destaque ao lado negativo. Muitas vezes acreditamos fazer isso para ser realista, ou simplesmente para identificar as coisas negativas que tentamos eliminar de nossas vidas. E embora não ache que nos enganamos ao dar atenção ao que nos machuca e incomoda – se o fizermos a fim de melhorar as coisas –, acredito que é importante dedicar tempo para atentar nas coisas boas, para que possamos repeti-las e aumentar sua frequência em nossas vidas. Hoje, quando me sinto mal, ou quando o dia parece me sufocar, ou quando sinto uma nuvem perseguindo-me para onde quer que eu vá, faço uma lista das dez coisas a que sou mais grato. Só dez. De início, quando tentava fazer isso, não passava da terceira. Pensava: “Estou vivo. Tenho saúde. Tenho comida na mesa…”, e parava por aí. Levou algum tempo para que eu conseguisse expandir essa lista. Quando parei, de fato, para pensar, percebi que há muitas outras coisas extraordinárias para agradecer. Posso andar. Posso ver. Posso sentir. Tenho amigos. Tenho uma família que me ama. Tenho um lar. Tenho dois filhos bonitos. E, quando chego ao número 8 da lista, já estou sorrindo. E é assim que me foco no positivo.
Gostei do livro, embora tenha achado um pouco repetitivo seu discurso.
Destaques:
[1] “No entanto, por maior que seja a dor que se pode sentir, e por maior que seja o sofrimento a suportar, a vida sempre continua. Há um ditado persa que diz: “Isso também há de passar”, e não podia ser mais verdadeiro.”
[2] “Uma vez um amigo disse uma coisa que me ajudou muito: “Quando você estiver se sentindo preso e tudo parecer pesado, lute!”. Isso é muito verdadeiro. É preciso lutar. É preciso sentir. É preciso ir em frente. Quando não estou no meu melhor momento, emocionalmente falando, a última coisa que quero é que as pessoas saibam como estou me sentindo. Meu avô sempre dizia: “Caminhe pela vida com as mãos nos bolsos, com os punhos fechados, assim todo mundo vai pensar que você está cheio de dinheiro”. Ele queria dizer que você nunca deve deixar as pessoas perceberem quando você está abatido.”
[3] “Algumas pessoas acreditam que não devemos ter tudo ao mesmo tempo, mas eu discordo. Em vez disso, acho que não deveríamos ter tudo até estarmos realmente prontos. E, para estar pronto, é preciso trabalhar. Muito. Não estou só me referindo ao trabalho prático, do tipo que nos ajuda a alcançar o sucesso profissional desejado. Também estou falando de trabalho espiritual: precisamos aprender com as lições cármicas postas pela vida em nosso caminho. Na minha vida, chegou um momento em que as estrelas se alinharam perfeitamente e tudo estava justo no lugar necessário para eu poder alcançar o objetivo com que sempre sonhara, e mais ainda. E se aprendi alguma coisa ao longo do processo é que, quando finalmente chega a sua hora, você não pode permitir esperar e olhar para trás. É preciso trabalhar incansavelmente, dar tudo que você tiver e se dedicar de corpo e alma para concretizar a bênção que lhe foi entregue. Porque é exatamente isso – uma bênção. Precisamos crescer diante das circunstâncias e aproveitar ao máximo a oportunidade de brilhar.”
[4] “Contou-me que foi monge budista e que havia morado na Índia. Como monge, foi para o Nepal e o Tibete, e passou muitos anos nas montanhas da Tailândia. Mas, certo dia, apaixonou-se por uma chinesa e desistiu de ser monge, para poder se casar e iniciar uma família. Agora trabalhava no hotel. “Macacos nascem macacos porque o destino deles é morar nas árvores”, falou, “e seres humanos nascem para se reproduzir. Assim, deixei de ser monge e hoje estou casado, com duas lindas filhas. Apesar de não ser mais monge, a experiência me ajudou a encontrar meu caminho.”
[5] “Há uma história, em sânscrito, que diz que Jesus – durante os chamados anos perdidos, em que, de acordo com a Bíblia, desapareceu e foi meditar – viajou por toda a Índia e atravessou o Himalaia para chegar ao Tibete. Diz-se que se juntou a uma caravana e viajou pelo Oriente Médio (por Iraque, Irã, Afeganistão e Paquistão), passando pela Índia e Nepal para, por fim, chegar ao Tibete. Existem dezenas de fatos que sustentam essa afirmação, mas a história mais interessante para mim é que, ao retornar de sua viagem, Jesus lavou os pés de seus discípulos. Não parece estranho? Jesus dizia a seus apóstolos que lavar os pés de um ser humano é um sinal de humildade e servidão. Na verdade, esse costume existe em outras religiões, como no islã e no siquismo; e, no hinduísmo, tocar os pés de outra pessoa é um sinal de respeito. Não acho que isso seja coincidência. Para mim, essa informação tem uma razão, cristalizando a ligação que sinto existir entre todas as religiões.”
Sobre a carta escrita por Ricky:
“Alguns meses atrás, decidi escrever minhas memórias, um projeto que eu sabia me deixaria mais próximo de uma incrível revolução em minha vida. Assim que escrevi a primeira frase, tinha certeza de que o livro seria a ferramenta que me ajudaria a me libertar das coisas que carregava comigo havia muito tempo. Coisas muito pesadas para manter dentro de mim. Ao escrever esse balanço de minha vida, cheguei muito perto da verdade. E isso é algo que deve ser celebrado. Por muitos anos, havia um único lugar em que eu me sentia próximo de minhas emoções: o palco. Subir no palco enchia minha alma de muitas formas, quase totalmente. É meu vício. A música, as luzes e o rugido do público são elementos que permitem que eu me sinta capaz de qualquer coisa. Esse fluxo de adrenalina é incrivelmente viciante. Não quero nunca parar de sentir essas emoções. Mas é a serenidade que me trouxe para onde estou agora. Um incrível lugar emocional de compreensão, reflexão e iluminação. Neste momento, sinto a mesma liberdade que em geral sinto no palco, algo que, sem dúvida, preciso compartilhar. Muitas pessoas diziam-me: “Ricky, não é importante”, “não vale a pena”, “você trabalhou tanto tempo, e tudo que construiu irá ruir”, “muita gente não está pronta para aceitar sua verdade, sua realidade, sua natureza”. Como todos esses conselhos vinham de pessoas que eu amava demais, decidi seguir com a minha vida sem compartilhar com o mundo minha verdade completa. Permitir-me ser seduzido por medo e insegurança tornou-se uma profecia realizada de sabotagem. Hoje assumo toda a responsabilidade por minhas decisões e ações. Se alguém me perguntasse hoje: “Ricky, do que você tem medo?”, eu responderia: “Do sangue que escorre pelas ruas de países em guerra… da escravidão infantil, do terrorismo… do cinismo de algumas pessoas em posição de poder, da interpretação enganada da fé”. Mas medo de minha verdade? De jeito nenhum! Pelo contrário, ela me enche de força e coragem. É exatamente disso que preciso, ainda mais agora, pai de dois meninos lindos, tão cheios de luz e com uma visão de mundo que me ensina novas coisas todos os dias. Continuar vivendo da forma que vivi até hoje seria, indiretamente, diminuir o brilho que meus filhos têm desde que nasceram. Já basta. Isso precisa mudar. Isso não poderia acontecer cinco ou dez anos atrás, mas agora era a hora certa. Hoje é meu dia, essa é minha hora e esse é o meu momento. Esses anos de silêncio e reflexão me deixaram mais forte e me fizeram recordar que a aceitação precisa vir de dentro e que esse tipo de verdade me dá o poder de conquistar emoções que eu nem sabia que existiam. O que vai acontecer a partir de agora? Não importa. Posso apenas focalizar o que está acontecendo comigo neste exato momento. A palavra “felicidade” assume um novo significado para mim a partir de hoje. Foi um processo muito intenso. Cada palavra que escrevo nesta carta vem imbuída de amor, aceitação, desapego e satisfação real. Escrever este texto é um passo sólido em direção a minha paz interior e uma parte vital de minha evolução. Tenho orgulho de dizer que sou um homossexual feliz. Tive a bênção de ser quem sou.
RM”