Forrest Gump o contador de histórias
Autor: Winstom Groom
Editora: Rocco
Ano: 19995
Edição: 1
Páginas: 195
Original: Forrest Gump
Dedicatória:
Para Jimbo Meador e George Radcliff, que sempre deram importância a ser gentil com Forrest e seus amigos.
Lembro de ter assistido Forrest Gump quando adolescente. Lembro de bem pouca coisa, na verdade. Apenas da célebre frase “Run, Forrest, Run!” e do ator Tom Hanks barbudo sentado num banco de praça e também dele correndo.
A infância de Forrest foi selada pela presença constante da mãe, pois além de ser sua única família, também era a pessoa responsável por dar conselhos sobre a vida e comportamento. Mesmo com um QI muito abaixo da normalidade, ele frequentou a escola (ainda que “escola de birutas”) onde se revelou um gênio em exatas. Forrest tem um discurso muito parecido com o de Holden Caulfield (um dos meus personagens favoritos de todos os tempos na literatura): narrado em primeira pessoa, com uma sinceridade muito inocente ainda que algumas vezes ranzinza.
Apesar de ser um idiota, Gump lia algumas coisas e cita importantes obras da literatura universal, como visto em “Mas eu sei alguma coisa sobre idiotas. Provavelmente é a única coisa que sei, mas li sobre eles desde o idiota daquele cara Dochtoévski, até o bobo do Rei Lear, o idiota de Faulkner, Benjie, e até mesmo o velho Boo Radley em To kill a mockingbird e ele era um idiota sério. No entanto, o que mais gosto é do velho Lennie, em Ratos e homens. A maioria desses caras escritores contam direito e porque seus idiotas são sempre mais espertos do que as pessoas reconhecem. Poxa, como concordo com isso. Qualquer idiota concordaria. Hi, hi.”
O livro apresenta passagens bem engraçadas com opiniões bastante próprias de Forrest (às vezes com requintes de humor negro), como a sua passagem na China, mostrada em “Quanto ao último, talvez ele tivesse razão. Os chineses comem com dois pauzinhos e é quase impossível botar a comida na boca com eles, por isso grande quantidade dela ia parar na minha roupa. Não é de admirar que não se veja muitos chineses gordos. Já era hora deles aprenderem a comer com garfo.”
Gump participa de momentos históricos (alguns surreais, sempre rodeado por muita confusão misturada com heroísmo e humor), como a guerra do Vietnã, o lançamento de um foguete para o espaço e o movimento Hippie. Ainda há uma passagem onde ele salva Mao Tse Tung de se afogar. Durante a guerra do Vietnã, Forrest conhece seu amigo Benjamin Buford, o Buba, com quem rapidamente se cativou. Ele conhecia tudo de mar e crustáceos. Para homenagear Buba, ele cria a Buba Gump Shrimp Co (mais detalhes no fim do post).
Forrest faz alguns amigos durante sua longa jornada, além de Bubba, como o Tenente Dan e uma improvável amizade com uma orangotanga. Acompanhamos ainda a peregrinação no campo amoroso por Jenny, uma amiga de longa data, por quem sempre foi perdidamente apaixonado. Em uma dada passagem, chorei.
Estava com vontade de (re)visitar a história de Forrest Gump desde minhas duas últimas viagens aos Estados Unidos, por causa do famoso restaurante Buba Gump, um restaurante temático com cardápio baseado em frutos do mar. Antes de chegar às mesas do restaurante, passamos por uma loja onde é possível comprar lembranças do filme (bonés, camisas, canecas etc). A comida é ok.
Destaques:
[1] “Na manhã da minha partida, uma enfermeira veio e deixou um envelope com meu nome escrito. Abri e tinha uma carta de Dan, que, afinal, estava bem, e tinha isso a dizer: “Caro Forrest, Lamento não ter tido tempo de ver você antes de partir. Os médicos decidiram de uma hora para outra, e antes que eu me desse conta, já estavam me levando, mas pedi para escrever esta carta, porque você foi muito gentil comigo. Sinto, Forrest, que você está a um passo de alguma coisa muito importante em sua vida, alguma mudança ou evento que o levará em outra direção. Deve agarrar esse momento e não deixá-lo escapar. Quando penso nisso, recordo algo em seu olhar, uma certa chama que surge de vez em quando, em geral quando você sorri e, nessas ocasiões que não são frequentes, acredito ter visto quase uma gênese de nossa capacidade como seres humanos de pensar, de criar, de ser. Esta guerra não é para você, companheiro e nem para mim e já estou bem fora dela assim como estou certo de que você também ficará. A questão crucial é: o que fará? Não acho de jeito nenhum que seja um idiota. Talvez pelos testes ou julgamento de alguns tolos você se enquadre em uma categoria ou outra, mas lá no fundo, Forrest, eu percebi uma centelha vívida de curiosidade ardendo no fundo de sua mente. Aproveite a maré, amigo, e enquanto estiver sendo levado, fará com que seja a seu favor, combata os bancos de areia e troncos submersos, e nunca ceda, nunca desista. Você é um cara bom, Forrest, e tem um grande coração. Seu amigo, Dan.”
[2] “Lá tava eu, novamente na outra metade do mundo, dessa vez em Pequim, na China. As outras pessoas que jogavam no time de pingue-pongue eram muito legais, vinham de tudo que é parte do mundo, e eram especialmente simpáticas comigo. Os chineses também eram legais e bem diferentes dos que eu tinha visto no Vietnã. Em primeiro lugar, eram limpos e asseados, e muito educados. Em segundo, não tavam tentando me matar.”
[3] “Não culpei a Jenny, ela tinha feito o que devia fazer. Afinal, sou um idiota, e apesar de muita gente dizer que casou com um idiota, não têm a menor ideia de como seria se casassem com um de verdade. Acho que de maneira geral eu só tava sentindo pena de mim mesmo porque tinha chegado aonde acreditava que Jenny e eu chegaríamos juntos um dia. E por isso quando a mãe dela me disse que ela tinha se casado, foi como se uma parte minha morresse e nunca mais fosse reviver, pois casar não é como fugir. Casar é um negócio muito sério. Às vezes, durante a noite, eu chorava, mas não adiantava muito.”