Tampa
Autor: Alice Nutting
Editora: Rocco
Ano: 2014
Edição: 1
Páginas: 320
Tradução: Maira Parula
Original: Tampa
A sinopse é forte e polêmica: pedofilia.
A provocação de Tampa começa na capa. Tanto a versão brasileira quanto a americana remete ao órgão sexual feminino. O romance de estreia da escritora Alissa Nutting é baseado na história real de Debra Lafave, uma professora de 24 anos presa por ter relações sexuais com um aluno de 14 na Flórida, Estados Unidos em 2005. O caso se tornou mundialmente famoso devido a beleza unânime de Debra. As autoridades discutiram a relevância da beleza dela: um garoto poderia ser considerado abusado por alguém sendo tão bonita quanto ela?
A protagonista e narradora da história é a professora Celeste Price, 26 anos e professora da oitava série. Educada, bonita e sensual. Ela é casada com Ford, um policial um pouco mais velho que ela, vem de família rica. Quando consegue um emprego de professora em uma escola de ensino médio, não consegue dormir de tão ansiosa pela possibilidade de conhecer vários garotos em um só lugar.
Celeste vive uma vida paralela pois não pode revelar seu verdadeiro instinto de predadora sexual adolescente. Sua obsessão por garotos de 13 ou 14 anos é tão forte que ela não se interessa por seu marido, por considerá-lo velho demais, como observamos em “Meu verdadeiro problema com Ford é na verdade a idade dele. Ford, como os maridos da maioria das mulheres que se casam por dinheiro, é velho demais. Como tenho 26 anos, é verdade que ele e eu somos quase da mesma geração. Mas com 31 ele já passou uns 17 anos da minha janela de interesse sexual.” Ela prefere os meninos que não possuam músculos pronunciados ou nenhum outro traço que evidencie a maturidade. Ela encontra em Jack Patrick o ideal da concretização da sua obsessão.
O livro contém passagens muito eróticas e bem detalhadas. Seu vocabulário nada sutil pode chocar os desavisados. Celeste abusa de erotismo e criatividade sexual: seus devaneios são repletos de sexo, estando ela acompanhada ou não. Celeste não tem pudor.
A narrativa é fluida e simples e também possui pitadas de humor negro e um suspense leve. É estranho como mesmo sendo um assunto indigesto a vontade e a curiosidade de saber o que acontece na próxima página fica mais latente ao desenrolar da história. O final da trama é trágico (não sei se a história de Debra Lafave foi assim também).
Este livro foi aclamado pela crítica, virando um best-seller na Grã Bretanha e Estados Unidos. No entanto, não leia este livro se não tiver estômago ou se for mãe de adolescentes nessa idade, você pode ficar paranóica.
Destaques:
[1] “Um sinal de trânsito sensível ao som na entrada do refeitório registrava o nível de ruído coletivo do ambiente: verde significava que os alunos falavam num volume aceitável, amarelo era um alerta intermediário e o vermelho soaria uma sineta que significava a invocação de um castigo de completo silêncio – depois que a luz vermelha acendia, um funcionário soava três apitos e qualquer um apanhado falando depois disso recebia uma punição. Mas eu olhava a luz verde – O grande Gatsby fazia parte do currículo dos alunos da nona série, não aos da oitava – e ficava me imaginando dentro do meu conversível com Jack, de capota arriada, nós dois completamente nus, eu pisando no acelerador e deixando que o vento batesse em nossos corpos como uma espécie de preliminar.”
[2] “– Você fica uma pedra de gelo durante dias, às vezes semanas, e então de repente eu chego em casa e você está tão excitada que me recebe com a bunda virada para o ar. E então, na manhã seguinte, parece que eu te dou nojo de novo. Sabe o quanto isso fode com a minha cabeça? – Seus olhos estavam fixos em mim, encarando; ele queria que eu me virasse e olhasse para ele, para ver a expressão que acompanhava sua confissão dolorosa, mas me recusei. Pelo resto do percurso, continuei num silêncio lento; por fim, sua mão se afrouxou e ele retraiu o braço. – Merda de vida – resmungou ele.”