A Redoma de Vidro.

A Redoma de Vidro
Autor: Sylvia Plath
Editora: Biblioteca Azul
Ano: 2014
Edição: 1
Páginas: –
Tradução: Chico Mattoso
Original: The Bell Jar 

Dedicatória: Para Elizabeth e David. IMG_20150102_113845

Comecei o ano de 2015 com uma leitura incrível de um clássico da literatura norte americana. Escrito por Sylvia Plath, uma autora que sempre tive a curiosidade de ler, acho que facilmente entra para a lista de melhores da vida. Aproveitei sua única prosa (uma vez que poesia não faz parte do meu repertório de amor) para conhecer um pouco mais sobre ela.

A história é semi autobiográfica. Digo semi pois Sylvia mudou nomes de pessoas e lugares, tendo até publicado o romance com o pseudônimo de “Victoria Lucas”. De um modo geral, trata a história da própria Sylvia em duas épocas adjacentes, assinaladas por um sutil período de insanidade, desde a época de estágio até sua precoce internação em um manicômio.

O livro é narrado por Esther Greenwood, uma estagiária de 19 anos de uma conceituada revista feminina em Nova Iorque. A história se passa no verão de 1953, quando ela deveria estar se divertindo na Madison Avenue (Esther é bolsista e tem suas despesas pagas após ter ganhado um concurso de escrita) aproveitando os convites de jantares e festas badalados. No entanto, ela só consegue pensar em como o casal Rosenberg morrerá executado na cadeira elétrica.

Um aspecto bastante interessante, ainda mais para a época, é a relação homem x mulher. Temas como a posição da mulher na sociedade vigente, virgindade, amor e o sexo casual. Ela fala ainda sobre a a loucura da paixão em “Há algo de desmoralizante em ver duas pessoas ficando cada vez mais loucas uma pela outra, ainda mais quando você é a única pessoa sobrando no quarto. É como ver Paris de dentro da última cabine de um trem que segue em direção contrária, a cada segundo que a cidade fica menor e menor, só você pode sentir que na verdade é você que vai diminuindo e diminuindo e ficando mais e mais solitária, correndo de todas as luzes e da excitação a milhões de quilômetros por hora”.

A escrita de Plath transita entre o humor e a depressão, como percebível em “Algumas flores de cerejeira flutuavam sobre a água, e eu achei que aquilo devia ser algum tipo de sopa japonesa de efeito digestivo. Comi tudo, incluindo as florezinhas. A sra. Guinea nunca falou nada, e foi só muito mais tarde, quando contei sobre o jantar a uma caloura na universidade, que descobri o que eu tinha feito” e “Um sonho ruim. Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim.”

A progressão da insanidade é tratada com muita sensibilidade. Apesar de muito densa, a escrita de Plath é dotada de lirismo e poesia. Esther é internada em uma clínica psiquiátrica e medicada com tratamentos de eletrochoques, comuns na década de 50.

Sofremos junto com a narradora, observando como uma jovem com um futuro brilhante e cheio de possibilidades prostra-se em sua redoma. A lucidez de Esther sobre seu estado emocional nos incomoda e mesmo com mais 50 anos de sua publicação, esse preconceito permanece bem atual. “A Dra. Nolan havia me alertado, de maneira bem direta, que muitas pessoas me tratariam com certa distância ou me evitariam, como se eu fosse uma leprosa. O rosto de minha mãe voltou à minha mente, como uma lua pálida e recriminadora, em sua última visita à clínica, a primeira desde o meu aniversário de vinte anos. Uma filha no manicômio! Eu tinha sido capaz de fazer aquilo com ela.”

Este primoroso romance mostra, sobretudo, a fragilidade de Plath, que concretizou o suicídio dois anos após ter publicado seu único romance.

Destaques:

[1] “Deve haver um bocado de coisas que um banho quente não cura, mas não conheço muitas delas. Sempre que fico triste pensando que um dia vou morrer, ou perco o sono de tão nervosa, ou estou apaixonada por alguém que não verei por uma semana, me deixo sofrer até certo ponto e então digo: “vou tomar um banho quente”.”

[2] “Decidi não esperar nada de Buddy Willard. Você nunca se decepciona quando não espera nada de alguém.”

Sobre carolinayji

Desde que me conheço por gente, há algumas décadas, sou eu.
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