Por isso a gente acabou

Por isso a gente acabou
Autor: Daniel Handler
Editora: Cia das Letras
Ano: 2012
Edição: 1
Páginas: 368
Tradução: Érico Assis
Original: Why We Broke Up

 

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De vez em quando, pego livros YA para ler. Todo mundo deveria tentar.

Às vezes nos apaixonamos por quem não podemos. Ou não nos apaixonamos por quem devemos. Talvez não seja suficiente amar alguém se o (a) outro (a) não te ama. Afinal, quem nunca teve um coração partido? Se você ainda não teve, fique tranquilo. Mais cedo ou mais tarde, vai acontecer. Pode parecer um pouco pessimista da minha parte, mas isso acontece com todo o mundo. Ter um coração partido faz parte do aprendizado da vida. E talvez, (infelizmente) seja tão natural quanto respirar.

“Por isso a gente acabou” conta a breve história de amor entre Minerva Green e Ed Slaterton. Como o título já auto-explica, trata-se de uma carta escrita por Min, expondo e devolvendo todos os motivos e objetos que permearam o namoro dos dois, como em: “Mas já é dezembro e o céu está claro, assim como tudo agora está claro para mim. Estou contando porque a gente acabou, Ed. Estou escrevendo, nesta carta, toda a verdade sobre o que aconteceu. E a verdade é que, porra, eu te amei demais.”

Ela empacota todas as lembranças em uma caixa: desde pétalas de rosa, pedaços de um cartaz e outros objetos que foram coadjuvantes nessa intensa e inacreditável história de amor. Uma caixa cheia de lembranças que ela acredita ser necessária devolver para o dono, para expulsar o amor do seu coração. São objetos simplórios e banais, que individualmente não teriam significado algum, mas que de forma coletiva contribuem na composição da história deles.

Cada capítulo começa com uma arte (desenhadas por Maira Kalman) que representa o objeto devolvido, seguido por uma explicação de por que Ed e Min terminaram. Apesar de ambos terem a percepção que eram muito diferentes um do outro, arriscaram namorar. Min, amante da sétima arte e excêntrica e Ed, o popular da escola e cocapitão do time de basquete.

É tão triste acompanhar a história, principalmente porque a narradora é a Min. É possível sentirmos todas suas emoções e até voarmos com as borboletas no estômago dela, como em: “ ‘Te vejo segunda!’, você gritou, como se tivesse acabado de descobrir os dias da semana. A gente achou que tinha tempo. Eu acenei mas não podia responder, porque finalmente tinha me permitido sorrir tanto quanto eu queria a tarde inteira, a noite inteira, cada segundo de cada minuto com você, Ed. Que merda, acho que eu já te amava. Condenada, como um taça de vinho sabendo que um dia vai cair, sapatos que logo vão ficar gastos, a blusa nova que logo você vai sujar.”

Min também passa pela fase do telefonema, onde esperamos a hora de poder ligar praquela pessoa especial, como em “Mas à noite, à noite era você, finalmente no telefone com você, Ed, a minha alegria, o meu melhor.”

Apesar de a história ser um eterno cliché (quem nunca leu nada sobre uma jovem com o coração partido na adolescência?), Daniel Handler consegue escrever algo cativante, engraçado, mas doído e inovador, convencendo-nos de realmente estarmos lendo o relato de uma jovem.

No final do livro, descobrimos o motivo pelo término da relação dos dois e como qualquer rompimento, a separação além de inevitável, é dolorosa. Mas o mais importante é refletir que Min teve a coragem do amor. Talvez seja isso que eu tenha mais gostado (e em seguida das ilustrações) no livro. O amor pode ser maior do que qualquer diferença e pode superar qualquer obstáculo. É, mas não neste livro.

Há muito mais mais no livro que não escrevi aqui. Como a importância para o entendimento da trama, calcada nos personagens secundários: o Al (melhor amigo de Min) e a Joan (irmã mais velha do Ed).

Voltando à primeira frase que escrevi nesta resenha, o amor é como a leitura de um livro young adults. Todo mundo deveria, ao menos, tentar.

 

Destaques:

[1] “Suspirei e apontei o caminho. Eu te dei uma aventura, Ed, estava bem diante do seu nariz mas você não viu até eu ter que chamar a sua atenção, e foi por isso que a gente acabou.”

[2] “Mas a gente não revelou, né? Aqui está, sem revelação, um rolo de filme com todos os mistérios não revelados. Nunca levei a lugar nenhum, só deixei esperando numa gaveta sonhando com estrelas. Foi a nossa época, ver se a Lottie Carson era quem achávamos que era, todas aquelas fotos que tiramos, nos matando de rir, beijando de boca aberta, gargalhando, mas a gente nunca revelou.”

[3] “Ed, aquilo era tudo, aquelas noites no telefone, tudo que a gente dizia até tarde, ficava muito tarde e aí mais tarde e aí bem tarde e enfim para a cama com a orelha quente e cansada e a vermelha de segurar o telefone tão perto, pertinho, para não perder uma palavra do que quer que fosse, porque quem ia se importar com o meu cansaço no labutar enfadonho diurno sem o outro. Eu acabaria com qualquer dia, todos os dias, por essas longas noites com você, e foi o que fiz. Mas é por isso que já estava condenado, bem ali. A gente não podia ter só as noites de magia zumbindo pelos fios. A gente tinha que ter os dias, também, os belos e impacientes dias que estragavam tudo com os cronogramas inevitáveis, os horários obrigatórios que não se cruzavam, os amigos leais que não se gostavam, os absurdos imperdoáveis rasgados da parede independentemente das promessas feitas depois da meia-noite, e foi por isso que a gente acabou.”

[4] “Não durou muito, não ficou aberto por muito tempo, e foi por isso que a gente acabou, mas quando fecho este livro para te entregar, não penso nisso, na gente segurando o livro nas mãos para comprar e levar, porque, porra, Ed, não foi por isso que a gente terminou. Eu amo, sinto falta, odeio ter que te devolver, essa coisa complicada, foi por isso que a gente ficou junto.”

[5] “Perdi o fôlego de novo com o seu sorriso.”

[6] “E O MEU GUARDA-CHUVA, que perdi naquele dia, onde está? Sei que eu estava com ele de manhã. Me devolva, Ed, se estiver com você, fico perdida sem ele nos dias de chuva, mesmo que agora seja dezembro, então dizem que não tem mais chuva, tem neve, e guarda-chuva na nevasca é uma coisa ridícula, um cinto de segurança fora do carro, andar de capacete sem bicicleta, como um peixe andando de bicicleta, como é mesmo que dizem? Como o café precisa ser preto, como uma virgem precisa de namorado. Tantas coisas que nunca vou ter de volta.”

Sobre carolinayji

Desde que me conheço por gente, há algumas décadas, sou eu.
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