Teu Nome Será Sempre Alice e Outras Histórias
Autor: Eros Grau
Editora: Globo Livros
Ano: 2013
Edição: 1
Páginas: 128
Durante a folia momesca, decidi dar um tempo na leitura da biografia do Fred Mercury (a qual se arrasta na minha solidão tecnológica com o Kindle). Escolhi a dedo uma das últimas aquisições da minha estante: uma coletânea de cinco contos bem curtinhos e uma novela (seria esta a denominação correta?) escrita por Eros Grau.
Apesar de não gostar muito de contos, pois, na minha cabeça, acho que um conto não consegue me cativar a tempo do seu término, li todos os contos com bastante empolgação. É bem possível que o feriado tenha ajudado, mas, a bem da verdade, talvez Eros Grau tenha quebrado o muro da minha impaciência.
Na primeira história, a qual dá o título para o livro, conhecemos Alice, a avó de Bernardo, esposa de Pedro. Revirando fotografias do passado na casa dos avós já falecidos, Bernardo encontra um pacote com fotografias românticas, artísticas e eróticas. A partir deste momento, a narrativa torna-se um pouco perturbadora com a sequência de fatos que sucedem esta descoberta. Com uma narrativa mesclando suspense e romance, acompanhamos Bernardo na investigação do passado de sua avó. Voyeurismo e reflexões acerca da intimidade humana permeiam esta história. Antagonismos como desapego e amor. Sexo e sentimentos. Fala-se aqui sobre paixão e acima de tudo, sobre o amor espontâneo, livre de vaidades e posses.
Os demais contos apresentam-se de forma breve, com um misto de ausências e lembranças, na sua maioria com personagens femininas sendo o alicerce da narrativa. Um dos contos traz como objeto de posse da personagem o livro “No caminho de Swann”, do Proust. Uma coincidência de boa indicação de leitura para a moça aqui, aliás. Em um dos contos, a menção à uma sugestiva repetição da utilização da máquina Rolleiflex Franke & Heidecke – Braunschweig pode correlacionar-se de modo singelo à novela de Alice.
Destaques:
[1] “Casaram-se em 1943. Pedro nessa época ensinava também Filosofia. A partir dos anos seguintes passaria a dar aulas somente de História. Alice começara a lecionar, ficou grávida, jamais retornou às aulas. Ocupava-se com a casa e os filhos, sempre sobrando tempo para ler, intensamente.
Para ler sobrava tempo, mas não para estar desocupada. Talvez por conta disso jamais o olhar de Alice tenha perdido o brilho, jamais aquela dor atravessada no peito e a angústia que sobe até a garganta tenham se abatido sobre ela. Vá lá, episodicamente um momento de tristeza, por alguma razão particular. Não melancolia. Além do mais, desde os primeiros beijos de Pedro ela se sentiu intensamente desejada, para todo o sempre. Deitou-se a primeira vez com Pedro na noite do casamento. Mal saíram do quarto do hotel durante a viagem de lua de mel. Adorou não sair da cama e Pedro disse-lhe que agora tinha certeza de que ela nascera para fazer aquilo.”
[2] “De repente me envolvo em andanças pela geometria. Suas formas despediram-se de mim nesse final de programa. Há uma semana. Oito dias que separam tanto quanto sete mil anos. Dói. Sua ausência é um objeto concreto, cortante, como uma lâmina aguda, que macera meu peito. Uma dor que sobe até a altura da garganta, não vai além. Perde-se aí, permanece aí.”