As Aventuras de Pi
Autor: Yann Martel
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2012
Edição: 1
Páginas: 371
Original: Life of Pi
Comecei a ler o livro sem uma motivação aparente, já que a sinopse não me prendeu e a capa do livro era a capa do DVD do filme, que me atraiu tampouco. Ganhei o livro e deixei na mochila. A sorte foi que não desfiz a mochila e levei-a comigo para a prova de vestido de noiva da minha irmã, atividade que me interessa tanto quanto. Brincadeira.
Já no início do livro, o enredo mostra-se filosófico e religioso, dois assuntos que me interessam bastante, principalmente quando abordados de forma ecumênica. O protagonista é Piscine Molitor Patel, ou para os mais íntimos, Pi. É, Piscine, de Piscina mesmo. Este nome excêntrico foi dado por seu tio em homenagem a uma piscina pública na França (que realmente existiu, e foi fechada em 1989), onde costumava nadar.
A história é contada em flashback, já por seu personagem adulto, e narra seus dias durante a infância; desde a vida na Índia, onde seu pai administrava um zoológico, passando pelo naufrágio do barco que tinha como destino o Canadá.
O tema central da história, é como Pi sobreviveu a 227 dias de naufrágio em um pequeno bote, acompanhado de animais selvagens como um macaco, uma hiena, uma zebra e um tigre de bengala, o temido Richard Parker. É fato que Pi sempre foi dotado de fé, muita fé, assunto fortemente discutido no início do livro, quando ele permeia entre as religiões hindu, cristã, muçulmana e judaica, o que faz com que pegue um pouco de cada doutrina para si.
É uma jornada que beira o surreal e apresenta como pano de fundo a metamorfose do extraordinário e da fé. Seu final é realmente angustiante, denso e surpreendente. A história me comoveu bastante, e reli seu final três vezes. Fica a pergunta para você que leu o livro: a metáfora foi criada, ou a superação de limites existiu de fato? Cabe a você olhar para dentro de si mesmo e responder esta pergunta.
Este livro (originalmente escrito em 2001) baseou o filme, homônimo, que concorreu ao Oscar em 2013. Disputou 11 categorias, vencendo as de Diretor (com o ótimo Ang Lee), Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Trilha Sonora. A polêmica acerca do livro tem origem no ano de seu lançamento, quando Martel foi acusado de plágio, por conta do romance brasileiro Max e os felinos, de Moacyr Scliar (morto em 2011). Talvez na época não tenha dado a merecida atenção ao caso, já que era apenas uma adolescente preocupada com o vestibular para Engenharia. Mas as indicações para o Oscar fomentaram e trouxeram novamente à tona a questão do plágio das ideias. No livro Max e os Felinos, Scliar narra a história de um menino judeu e um jaguar em um barco. Sim, histórias parecidas, mas neste momento, ainda não posso dar meu parecer, uma vez que ainda não li Scliar.
Destaques:
[1] “(…) Na vida, é importante concluir as coisas do modo certo. Só então a gente pode deixar aquilo para trás. Caso contrário, ficamos remoendo as palavras que podíamos ter dito, mas não dissemos, e o nosso coração fica carregado de remorso. Aquela despedida malfeita me magoa até hoje (…)”
[2] “A dor foi tamanha que não senti nada. Bendito seja o choque. Bendita seja essa parte de nós que nos protege da dor e do sofrimento excessivos. No coração da vida, tem uma caixa de fusíveis.”
[3] “(…) Quando já se passou por muita coisa ruim na vida, cada dor adicional acaba sendo, a um só tempo, insuportável e insignificante. A minha vida é como um ‘memento mori’ pintado por algum artista europeu: há sempre uma caveira sorridente ao meu lado para me lembrar que a ambição humana é uma bobagem. Debocho dessa caveira. Olho para ela, dizendo: “Você pegou o cara errado. Pode não acreditar na vida, mas eu não acredito na morte. Vá embora!” A caveira dá uma risadinha e chega ainda mais perto de mim, o que não me espanta. Se a morte anda tão grudada à vida não é por uma necessidade biológica – é por ciúme. A vida é tão linda que a morte se apaixonou por ela, e é um amor ciumento, possessivo, que tenta controlar o que pode. Mas a vida escapa a esse controle com a maior facilidade, perdendo apenas uma coisinha ou outra sem grande importância e, para ela, a tristeza nada mais é que a sombra passageira de uma nuvem.”